sábado, 2 de outubro de 2010

As incertezas e o individualismo



Em tempos de incertezas e transgressões, a única situação irrefutável é a de que os conceitos modernos não conseguem explicar a realidade contemporânea. A moral e a ética não ficam impunes nesse cenário de grandes modificações político-sociais. Discutir os aspectos que criam essa tendência pós-moderna ajuda a formar uma consciência nas pessoas sobre o contexto em que vivem. O filósofo francês Gilles Lipovetski veio à Universidade de Caxias do Sul, na última terça-feira, para palestrar sobre as transformações de nosso tempo.

O pensador acredita que vivemos não em um período pós-moderno, mas sim numa espécie de hipermodernidade. Para Lipovetski, não há uma superação da modernidade, mas sim sua intensificação. “Estamos vivendo uma era da exarcebação da modernidade. Não estamos numa era pós-moderna, mas sim numa era hiper-moderna. A sociedade hipermoderna parece uma escala hipertrófica em todas as suas esferas”. O filósofo defende suas ideias lembrando que na modernidade era possível perceber certas instituições que barravam o próprio desenvolvimento moderno. Aos poucos, essas regulações sucumbiram e os contra-modelos de desenvolvimento desapareceram.

Após todas essas constatações, Lipovetski se pergunta se seria correto afirmar que estamos passando por um fim da moral. O filósofo afirma que a grande mudança é que deixamos de viver numa era de deveres. “Hoje, a moral é pensada como um conjunto de coisas difícil. É uma obrigação uma coisa que não fariam. A hipermodernidade é uma época pós-moral. Observamos essa evasão do dever. Os deveres em si mesmo se transformaram em direitos dos egos”.

A vida na hipermodernidade acarreta em revés no coletivo. As grandes revoluções são colocadas em xeque e o sentimento individual entra em ascensão. Esse individualismo deve ser lembrado não apenas como algo irresponsável. Para ele, podemos perceber um individualismo responsável, pautado por entender os direitos dos outros. Esse individualismo também não permite que seus direitos de cada um sejam ameaçados.

Nesse cenário, o filósofo procura na educação uma forma de manter os homens dentro de um projeto contemporâneo e afastado da racionalidade extrema da modernidade. “Devemos educar para a moral, levando em conta o individualismo, jogando com a emoção e o sentimento”. No fundo, Lipovetski é um grande otimista. O pensador ainda acredita nas possibilidades do homem em conseguir aglutinar suas forças, sem que isso represente o fim das especificidades dos indivíduos. Até o momento, os preconceitos e os medos dos homens estruturaram uma sociedade carente e infeliz em seus sentimentos.
Foto: Divulgação